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domingo, 13 de setembro de 2009

SUCOT: IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE JUDAICA


Numa aula de cultura hebraica, como já é habitual
observamos uma divergência entre o pensamento de dois
autores a respeito de uma questão específica que estávamos
estudando: qual das atuais correntes modernas do judaísmo
teria surgido primeiro, a ortodoxa ou a reformista?
Desta perguntas outras vieram como num turbilhão. Em um
processo de progressivo afunilamento das indagações
chegou-se a seguinte questão: “O que fez o povo judeu
permanecer até hoje no mundo, enquanto tanto outros
desaparecerem?”. Como se diz na conhecida, e batida frase:
“Se temos dois judeus, temos pelos menos três idéias”. Aqui
tento explicar os meus pontos de vista (veja que uso no plural,
rs). Parece-me que nossa tradição dá uma excelente resposta
para esta última questão, caso analisarmos com cuidado a
simbologia que está implícita numa das festas de
peregrinação: Sucot. Como sabemos sucot, é o plural de
sucá, que significa cabana. Em cabanas moramos nos
quarenta anos de peregrinação, do Egito a Ertez Israel. Como
seria possível, milhares de pessoas, homens, mulheres
crianças, velhos não morreram no deserto? A tradição nos
diz que D’us nos protegia, guiando nossa caminhada, pondo
nuvens nas nossas cabeças quando o sol estava escaldante,
fazendo surgir labaredas de fogo para aplacar o frio e mostrar
o rumo a seguir, dando-nos maná para vencermos nossa
fome, dando-nos a Torá, com seus múltiplos ensinamento
(regras de convivência, leis, mitsvot), com múltiplas
interpretações. Sobrevivemos ao deserto (nos seus múltiplos
significados), por milagre do Eterno, uno e indivisível. Por
outro lado, sua ação deu-se em vários caminhos, como sugeri
antes, pois múltiplas são as necessidades humanas.
Lembremos por outro lado, que em Sucot, além da mitsvah de
morar na cabana, temos a obrigação segurar e balançar em
“todas” as direções um ramo de vegetais, contendo quatro
espécies de plantas que existem em Israel (Lulav, arava,
hadás e etrog). Vê-se novamente, D’us nos ensinando a
lembrar da diversidade: não basta apontar os ramos para uma
direção (nem mesmo apenas para direção de Jerusalém), e
não basta um tipo de vegetal. São várias as interpretações
sobre os quatros tipos de vegetais, sendo que a mais popular
seria que eles representariam as diferentes espécies de
judeus. Parece-me que uma resposta a pergunta que orienta
esta discussão pode ser assim formulada: Os judeus
sobreviveram por obra de D’us (como nos lembra a mistvah
de morar na cabana), que parece agir por múltiplos caminhos
(como nos lembra a mistvah dos ramos de vegetais). Um
destes caminhos foi tornar-nos múltiplos e diversos. (Não
seria isto que Ele gostaria de evidenciar nas diversas
contagens que ordena fazer do povo, ao longo da caminhada
pelo deserto?). Embora o primeiro patriarca tenha sido
Abraão, os judeus ficaram para história como os filhos de
Israel. Não somos um povo de uma tribo, mas aquele das
doze tribos. Qualquer tentativa de categorizar os judeus
contemporâneos seria um exercício fadado a incompletude e
ao fracasso. Assim, parece-me que de suma importância para
permanência do povo judeu foi a sua diversidade, mais do
que sua quantidade. Fazendo uma breve digressão,
lembremos que uma plantação de um único tipo de planta
(monocultura) é extremamente frágil as mudanças que
ocorrem na natureza. Um único tipo de inseto pode fulminá-la.
De forma contrária, a biodiversidade protege a plantação das
diferentes pragas. Tanto é que existem técnicas agrícolas que
misturam plantações, para protegê-la das pragas. Nós,
judeus, somos, portanto, um exemplo maior da eficácia desta
“técnica agrícola divina”. Muitos foram os insetos que
tentaram nos destruir (“Em cada geração eles se levantaram
contra nós para nos destruir”, lemos na Hagadá, no Sêder de
Pêssach). Com nossa diversidade, dada do D’us, e pelos
homens potencializada (ticum olam), permanecemos. A nossa
diversidade nos permitiu, dentre outras coisas, uma
capacidade de nos transformar, de nos reiventar, a cada
abalo, a cada tragédia que sobre nós se abateu. Agora quem
surgiu primeiro, se os ortodoxos ou os reformistas, é como a
questão do ovo e da galinha. Não é o que mais importa.
Maximiliano Ponte

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