Pesquisar este blog

quarta-feira, 11 de julho de 2012

BATER OU FALAR: A PERASHA CHUCAT E A LEI DA PALMADA

Chucat em hebraico significa um tipo de ordenamento divino que é caracterizado pela falta de um evidente motivo para que os homens o siga. Esta perasha trata de uma chucat específica, a relacionada a vaca vermelha. A tradição ensina que a despeito de não sabermos os motivos das chucot devemos segui-las. Cumprir somente aquilo em que compreendemos evidencia mais uma fé na nossa racionalidade do que uma fé em HaShem. Mas há na atualidade atemporal da Torah um conjunto de ensinamentos éticos que são mais fáceis de serem compreendidos, e que podem iluminar um pouco alguns dilemas humanos, inclusive contemporâneos. Como alguns dizem: “está tudo lá”. Atualmente vem se discutindo no Brasil, a chamada “Lei da palmada”. Uma lei que para alguns visa coibir a violência familiar contra as crianças e que para outros impediria os pais de educarem seus rebentos do modo como bem entendem. Nas redes sociais opositores da lei, usam slogans do tipo: “Eu levei palmadas e agradeço a meus pais por isso”. Voltemos a perasha. Após descrever a complexa e intrigante chucat da vaca vermelha, surge uma das narrativas mais dramáticas da Torah. Narra-se um episódio cujo desdobramento final é o decreto divino que nem Moshe Rabenu, nem seu irmão Aarão HaCohen, a despeito de todas as suas virtudes não poderiam entrar na terra de Israel, após a longa peregrinação pelo deserto. Uma síntese despretensiosa do ocorrido seria mais ou menos assim. Mais uma vez o povo reclamava sem parar para Moshe. Desta vez reclamava de sede. D’us diz ordena a Moshe falar com uma certa pedra, mas Moyses irado com mais esta demonstração de falta de fé do povo, e abalado pela recente morte de sua querida irmã Mirian, bate, não uma, mas duas vezes na pedra. Aarão, seu irmão observou parado e calado tudo. A água jorra, a sede do povo é aplacada, mas uma sentença pesada é em seguida decretada. Nem Moshe, nem Aarão entrariam na terra de Israel. E este último teve sua morte iminente anunciada. D-us ordenou falar e não bater. O fato de o povo ser reincidente e de Moyses já ter feito de tudo para lidar com sua desobediência e falta de fé não atenuaram o decreto. O fato de Moshe estar abalado pela morte de sua irmã também não mudou muito a transgressão do grande líder judeu. Os sábios costumam dizer que um dos motivos para a severidade da sua punição seria o fato de ele ser um líder, e quem ocupa este lugar não pode agir de forma destemperada com os seus. E Aarão? O que ele fez para ter uma pena igual, além de sua morte ter sido decretada na sequencia? Aarão não fez nada. Esse foi o seu erro. Calou-se. Na primeira batida não poderia ter feito nada, mas na segunda poderia ter evitado, aconselhado ou algo do gênero. Mas calou-se. Voltemos pois a questão da “lei da palmada”. Ora, se se deve falar com uma pedra e não bater nela, porque se deve bater e não falar com uma criança? O fato de a criança ser reincidente, não justifica. O fato do pai e/ou mãe estar por algum outro motivo aborrecidos, não justifica. O fato de ser pai/mãe, chefe ou líder, não justifica, na realidade, incrementa o erro. E calar-se, diante deste bater-ao-invés-de-falar é tão o mais grave do que bater. Como dizem: “está tudo lá”, e eu completo basta ver. Maximiliano Ponte

Nenhum comentário:

Postar um comentário