Pesquisar este blog

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ROSH HASHANÁ: COMEMORAR?


O judaísmo tem lá suas especificidades... Tentemos
responder, por exemplo, a seguinte pergunta: Rosh
Hashaná é o dia em que se comemora o ano novo
judaico? Por diferentes motivos a resposta não é tão
simples. Primeiro, no calendário judaico, considera-se
ano novo tanto Pessach quanto Rosh Hashaná (isso para
não falar no Tu Bi’ shevat, ano novo das árvores...).
Segundo, Rosh Hashaná é um “dia” de ano novo, que
ocorrem em dois dias! Terceiro, há muitos que
consideram que dadas às características simbólicas desta
data, a utilização de expressões como comemorar, ou
alegrar-se, seriam completamente inadequadas. Teríamos,
portanto, no judaísmo um ano novo no qual não se
deveria comemorar? Como o habitual, a resposta também
não é simples. Exploremos, pois, um dos diferentes
pontos de vista sobre a questão. Tradicionalmente Rosh
Hashaná se associa a três eventos narrados na Torá. O
primeiro é a criação, por D’us do primeiro homem, Adão.
Ele, como todos nós, judeus ou não, foi criado a imagem
e semelhança de D’us, sendo possuidor da centelha
divina, que fora posta no homem, pelo sopro do Eterno.
Adão e todos nós também recebemos de D’us o livre-
arbítrio. Adão desobedeceu uma determinação explícita
de D’us e é expulso do paraíso, sendo exilado neste
mundo imperfeito no qual vivemos hoje. Por outro lado,
ao ser expulso, Adão recebe uma nova oportunidade. Em
seu castigo há algo de dádiva. Passando a viver num
mundo imperfeito, tem a possibilidade de torna-se sócio
de D’us no processo de tornar este mundo melhor. Já o
segundo, refere-se a Akedá (amarração) de Isaac, quando
D’us ordena ao já velho patriarca Abraão que ofereça seu
único filho em sacrifício. Abraão leva seu filho ao local
determinado. Dotado de seu livre-arbítrio poderia ter se
recusado. Mas ele seguiu obedecendo, até o ultimo
momento, quando foi impedido de cumprir a ordem. Issac
já amarrado, e seu pai com a faca na mão ouviram um
barulho, como um toque de shofar, vindo da mata
próxima, e lá estava um carneiro pronto para o sacrificio
(assim, Iom Teruá, dia do Toque do Shofar, é outro nome
dado a Rosh Hashaná). Abraão foi recompensado, sendo
“pai” de milhares. Seu povo não desapareceu do mundo,
como tanto outros, apesar dos reveses. Por fim, o último
episódio se refere à segunda subida de Moshê Rabenu ao
Monte Sinai. Conta a tradição que quando Moisés desceu
pela primeira vez do monte trazendo as tábuas da lei
encontrou os judeus adorando o bezerro de ouro. Irritado
teria quebrando estas tábuas, e D’us, diante da idolatria
do povo, decidira acabar com eles. A segunda subida trata
justamente do retorno de Moisés, no qual buscaria novas
duas tábuas e intercederia por nosso povo. Diz-se que
Moisés subiu ao monte em primeiro de Elul. D’us
aproveitaria o dia da criação do primeiro homem, para
julgar o povo judeu. E assim, o fez. Assim, Rosh Hashaná
é também conhecido como Iom Hadim, dia do
Julgamento. Mas em sua imensa bondade, deu aos
homens mais dez dias para que busquem se redimir de
seus erros. Assim, Moisés desceu quarenta dias depois de
subir, em dez de Tishiri, portanto no Iom Kipur. D’us não
destruiu o povo, mas determinou que aquela geração não
entraria em Eretz Israel, mas a de seus filhos o faria. Em
Rosh Hashaná recordamos de todos estes eventos, e
também de tudo o que fizemos no último ano. Assim este
dia também é conhecido como Iom Hazikarom, e
sabemos que nele seremos julgados por nossos atos
realizados último ano. E aí se retorna a pergunta feita
anteriormente: temos motivos para comemorar Rosh
Hashaná? Analisando as narrativas anteriores
apreendemos que elas assinalam: 1) D’us existe (e atua
no mundo); 2) Ele nos criou a sua imagem e semelhança
(dotando-se de centelhas divinas); 3) concedeu-nos o
livre-arbitrio (podem seguir ou não Suas ordenações); 4)
com Ele estabelecemos uma relação pessoal (Ele julga
individualmente cada um de nós); 5) D’us castiga (como
fez com Adão e com o povo que saiu do Egito) e
recompensa (como fez com Abrão); 6) mesmo quando
Ele castiga é possível identificar algo de dávida na
punição (Adão tornando-se parceiro de D’us); 7) D’us
leva em consideração os argumentos humanos (os
argumento de Moisés, e as rezas do povo foram
convincentes); 8) neste momento estamos mais próximos
de D’us (diz que quando Moisés subiu no monte, D’us
desceu, como num encontro); 9) até o último momento,
quando muitas vezes cremos que nada poderá nos
auxiliar, Ele pode interceder (como quando impediu o
sacrifício de Isaac); 10) foi-nos ensinado a como agir
neste momento de reavaliação, através da Tsedaká
(esforço de promover justiça, de certa forma, melhorar o
mundo, como foi proporcionado a Adão); da Teshuvá
(no retorno/arrependimento, anunciado pelo toque do
shofar, como ouvirá, outrora o velho Abraão); da Tefilá
(oração, como falamos com D’us, analogamente ao que
fez Moshê Rabenu) e que D’us reconsidera suas decisões.
Acredito que estes dez ponto, explicitam o entendimento,
que a despeito das especificidades, Rosh Hashaná é uma
data que devemos comemorar e apreciar como a doçura
do mel.
Shaná Tová
Maximiliano Ponte

Nenhum comentário:

Postar um comentário