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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

CHANUKÁ E OS PEQUENOS MILAGRES DE NOSSOS DIAS, OU CONTRA TODAS AS POSSIBILIDADES


Parecia que o judaísmo estava com seus dias
contados. O estudo da Torá, a prática da
circuncisão, bem como a observância da cashrut
e do Shabat foram proibidos. Sacerdotes eram
obrigados a sacrificar porcos em honra de deuses
pagãos. Ídolos foram erguidos no Templo de Jerusalém.
Seduzidos ou coagidos judeus assimilavam-se a cultura
greco-síria. Este era o cenário em Eretz Israel nos idos
de 169 a.e.c, época na qual Atíoco Epifanes
desencadeou seu projeto de helenização dos judeus.
Contra todas as possibilidades um grupo de
judeus mal armados iniciou uma resistência
heróica, e conseguiu vencer e expulsar os
invasores. Tomaram o Templo Sagrado, mas
quando foram acender a menorá, que deveria
ficar todo o tempo acesa encontraram apenas um
pote de barro com azeite suficiente para queimar
por um dia. O restante do azeite havia sido
profanado. Contra todas as possibilidades o
óleo queimou por oito dias, período
para preparação de mais óleo, que manteria
acesa a chama da menorá. São estes eventos que
são lembrados em Chanuká, a festa das luzes, ou
festa da esperança.
Os milagres de Chanuká vêm sendo reencenados
ao longo da historia judaica, não apenas em
Israel, mas também na nossa imensa Amazônia,
colaborando com a continuidade do nosso povo.
E estes milagres dos nossos dias nos auxiliam a
compreender um pouco mais daqueles que se deram
em Chanuká.
Parecia que para aquela família o judaísmo estava
acabado. Aquele jovem franco-judeu que chegou ao
Brasil, nas primeiras décadas do século passado
embrenhou-se por estes barrancos, abrindo seringais.
Viveu longe da comunidade, da sinagoga, da cashrut.
Dizem que apesar das oportunidades negava-se a mudar
de nacionalidade ou de religião. Seus filhos foram
batizados no cristianismo e ele mesmo enterrado num
cemitério cristão.
O Rabino Jonathan Sacks, autor do livro “Teremos
netos judeus?”, baseado em inúmeros estudos aponta
que a identidade judaica nessas situações tenderia a ser
completamente perdida na terceira geração. O referido
judeu-francês não teria netos judeus. Nos primeiros
cinqüenta e nove anos de sua morte, ele não teve um
descendente varão que recitasse um Cadish, no
aniversário de seu falecimento.
A maioria dos presentes a sinagoga naquele Arvit de
Shabat não puderam se aperceber que naquele dia,
quando um bisneto do nosso personagem real se
levantou para recitar-lhe o primeiro Cadish em sessenta
anos, que estávamos presenciando um destes milagres
judaicos como os que celebramos em Chanuká. A
memória do velho falecido foi consagrada pelo Cadish,
como fora o Templo com o acendimento da menora. O
bisneto, retornado ao judaísmo, foi como a cânfora com
óleo sagrado.
Na continuidade do judaísmo em seu sentido latu ou
estrito, houve, há e haverá descontinuidades, chamas
que se apagam, mas também chamas que se reacendem,
contra todas as possibilidades. Os milagres do D’us de
Israel conjugam-se com os esforços de seus filhos, e
com nossa esperança quase insana. Se não houvesse a
guerra, não se recuperaria o templo, se não preparasse o
óleo enquanto queimava milagrosamente aquele que
fora achado numa única canfora, a menorá teria
apagado de novo. Se não houvesse a persistência não se
retornaria ao judaísmo, mesmo tendo alma hebréia, não
se consagraria judaicamente a memória do velho, se
não acreditasse na verdade da Torá, o seu judaísmo se
apagaria em si mesmo.
Mas contra todas as possibilidades, ouvimos a voz
aguda da trineta do judeu neste dia cantar em claro
hebraico: TSADIK KATAMAR IFRACH, KEEREZ
BALEVALON ISGUÊ. XETULIM BEVEIT
ADONAI, BECHATSOROT ELOHEINU IAFRICHU
(O justo como palma florescerá, como cedro do
Líbano. Plantados na casa do Eterno, florescerão nos
átrios da casa do nosso D’us).
É por estes e tantos outros milagres, que devemos ao
acender nossas velas de Chanuká, com orgulho recitar:
“Estas luzes nós acendemos por causa dos milagres,
redenções, grandes feitos, salvações, maravilhas e
consolações que fizeste para com nossos antepassados
naquela época e nesta estação, pelas mãos dos teus
santos sacerdotes. Por isso, estas luzes são sagradas em
todos os dias de Chanuká, nem estamos permitidos de
fazer qualquer outro uso delas senão o de olhá-las a fim
de que possamos dar agradecimento a Teu Nome por
Teus milagres, salvação e obras maravilhosas”.
É bem verdade que nesta história particular, como na
história geral do judaísmo, existem outras cânforas
cujos óleos foram acesos, outras que ainda serão e
outras que não foram encontradas. Neste Chanuká
lembremos que a corrente do judaísmo não deve ser
rompida, mas se foi pode ser reconstituída, mas poderá
se romper novamente, precisando sempre ser cuidada.
Feliz Chanuká!
Maximiliano Ponte

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