Recentemente, o rabino Jacques Jacques Cukierkon
publicou um vídeo com comentários sobre a
perspectiva judaica sobre o Satanás, dentro de um
projeto “Pergunte ao Rabino” da Comunidade
Judaica Brit Braja. Comentei com ele que
havia alguns pontos complementares sobre o
tema que poderiam ter sido abordados. Deste
modo, o rabino me pediu que eu fizesse esses
comentários. Um ponto de partida que entendo
como importante é a idéia que Satan seria um
anjo. Em hebraico anjo é מלאך (malach) que
significa tanto um ser sagrado, como mensageiro.
Na perspectiva mística do judaísmo, haveria
vários níveis de mundo, alguns abaixo, outros
acima deste que habitamos. E os anjos, seriam,
portanto, de um modo bem simplificado seres
criados por D-us, que seriam mensageiros entre
os diversos mundos. Os anjos também não
seriam seres tão polivalentes como os humanos.
Cada anjo teria um atributo, ou função única,
necessária e imutável. Satan seria um desses
anjos. Aqui é importante destacar que na
perspectiva judaica não temos um mundo
polarizado entre um ser bom e outro mal,
que estariam em eterno duelo. Este visão
dual, própria de algumas outras religiões,
teria possivelmente suas origens no
zoroastrismo, culto religioso que não
influencia a teologia judaica como o
faz com outras religiões. Enquanto HaShem
é criador de tudo o que existe, existiu e
existirá é uniciente, unipresente e totipotente,
os anjos são seres por ele criados, com
missões especificas por Ele determinada.
Assim, o judaísmo não é uma religião dual,
o seu principio fundamental é a unicidade
radical de D-us. E neste sentido, qual seria
a “missão” do anjo Satan? Uma das formas
utilizadas pela tradição judaica para explicar
essa missão é recorrer a uma metáfora, digamos
assim, de um mundo jurídico místico. Neste
mundo, o Satan seria uma espécie de promotor,
sua missão seria explicitar a HaShem os erros
dos homens, nos julgamentos que cada um
de nós passamos ao longo de nossa vida neste
mundo, como também após a nossa morte.
Satan evidencia os erros e pecados, mas foram
os homens, por meio de suas escolhas, por
meio de seu livre arbítrio que cometeram seus
deslizes. Neste contexto, para quem está sendo
julgado Satan teria um caráter negativo,
entretanto aquele que foi vítima do “réu” o
veria de forma positiva. Isto seria ainda
mais uma evidência do caráter limitado, por
não ser único, de Satan, e por sinal de todos
os anjos. A depender de quem o observa,
e a depender da situação, sua avaliação poderia
ser positiva ou negativa. Já D-us é Baruch
Dain Haemet ( ברוך דין האמת ), Bendito Juiz
da Verdade, criador, organizador e mantenedor
de todo este mundo jurídico. Sempre bom,
até mesmo quando não entendemos suas
decisões e seus desígnios. Único e bom, por
essência, esse é HaShem. Este é um
entendimento essencial para que compreendamos
uma oração básica do judaísmo: Shemah
Israel Adonai Elohenu, Adonai Echad
(שמע ישראל י-ה-ו-ה אלוהינו י-ה-ו-ה אחד ),
mas vamos deixar para aprofundar este
tema noutra ocasiao, quem sabe?
Shabat Shalom
Maximiliano Ponte
sexta-feira, 26 de abril de 2013
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